Saturday, August 27, 2011

Desamarrando o nó da balança de pagamentos do turismo

Um dos problemas da atualidade no setor turístico nacional é o deficit na balança de pagamentos do turismo reflexo do aumento nas viagens internacionais dos brasileiros fruto sobretudo da melhoria dos indicadores sócio-econômicos do país.

Todo país desenvolvido e forte tem uma demanda emissora representativa, é absolutamente natural que à medida que a renda do brasileiro aumente ele queira utilizar serviços antes inimagináveis.

Além disso a valorização do real, criticada por muitos, é outro fator que facilita as viagens internacionais tornando-as mais baratas, no entanto o estabelecimento de medidas protecionistas - defendida por alguns - vai em contra ao direito das pessoas de consumirem livremente determinados bens e serviços e que na verdade não necessariamente podem vir a serem eficientes.

Segundo a OMT, o Brasil já está entre os 20 países que mais gastam em viagens ao exterior e essa sede de consumo tende só a aumentar. Um país pujante deve ter um povo aberto ao mundo e estimulado por conhecer e aprender a realidade que está ao seu redor.

Obviamente que do ponto de vista do interesse nacional é desejável que os brasileiros gastem os seus reais em viagens pelo país, para isso antes de pensar em "maquiar a moeda" ou desestimular as viagens internacionais, deveria-se trabalhar no sentido de mais viagens nos fins de semana, em feriados... a destinos nacionais, ou seja, tornar o ato de viajar menos esporádico e mais comum a fim entre outras coisas de beneficiar a ocupação hoteleira sobretudo na baixa estação.

Nesse aspecto o custo do transporte aéreo exerce um papel fundamental, o governo precisa estimular uma maior competitividade do setor aéreo nacional trabalhando pela queda nas tarifas, vale lembrar que ainda é mais barato viajar para Buenos Aires que para Manaus e isso precisa ser combatido, ou pior, existe maior frequência de vôos a New York que a Aracaju desde Guarulhos, por exemplo.

Muito disso se deve ao desejo das companhias internacionais de conectarem seus destinos ao Brasil com preços competitivos enquanto nossas companhias ainda continuam trabalhando com tarifas incompatíveis com a realidade do mercado, isolando cidades com grande potencial turístico.

Outro elemento que deve ser observado é o de que viajar ainda está associado a uma idéia de status, ou seja, o glamour de viajar a Buenos Aires não é o mesmo de viajar ao Guarujá, transmitir uma viagem internacional ao vizinho ou ao companheiro de trabalho principalmente entre àqueles que nunca foram ao exterior é algo que alimenta o desejo de muitos.

Pois bem, até aqui falou-se da saída de turistas e o que pode ser feito para equilibrar a balança de pagamentos através da chegada de turistas?

Muito pode ser feito e o Brasil está diante de um período que mudará a sua face no exterior a começar com o evento Rio+20 em 2012, a Jornada Mundial da Juventude e a Copa das Confederações em 2013, a Copa do Mundo em 2014, a Copa América em 2015 e as Olimpíadas em 2016, entre outros.

Tudo isso produzirá mais leitos de hotéis, maior oferta de vôos, maior divulgação de um país plural e diverso, maior conhecimento acerca desse país continental.

Num país com as características do Brasil, continental, cuja fronteira está em grande medida cortada pela Amazônia e distante dos grandes centros emissores de turistas é vital casar a promoção internacional com a conexão aérea.

Sob esse aspecto acredito na promoção compartilhada de um destino ou país através de uma parceria, no nosso caso entre a Embratur e as companhias aéreas que possuam vôos ao Brasil.

Por exemplo, é preciso que o turista russo saiba ao ouvir falar do Brasil que em 18 horas ele pode chegar a São Paulo em um vôo da Turkish Airlines pagando 1.600 euros pelo trajeto ida e volta, ou seja, é importante não só gerar o desejo no visitante em potencial mas estimulá-lo mostrando-lhe como chegar ao Brasil.

É de interesse da companhia promover seu vôo e da Embratur trazer o turista, o que deveria favorecer uma espécie de parceria público privada em folhetos, outdoors, vídeos, etc.

Além disso, deve-se desenvolver um trabalho de relações públicas com apoio das nossas embaixadas no sentido de captar companhias de países que ainda estão sem conexão aérea com o Brasil, a Rússia é um exemplo disso, precisamos aproveitar a retirada da obrigatoriedade de vistos entre brasileiros e russos para estimular um vôo que ligue Moscou ao Brasil.

Nesse sentido a força da demanda emissora brasileira é uma oportunidade porque o interesse das empresas aéreas é o de máxima ocupação seja no trajeto de ida ou de volta.

Outro desafio é aproximar a América do Sul aos destinos do Nordeste sobretudo num período em que várias cidades estão sendo prejudicadas pela crise na Europa que é em grande medida o mercado dessa região.

O que um destino deve oferecer para atrair um turista estrangeiro em potencial?
1º- Informação - fazê-lo conhecer e interessar-se pelo destino promovido;
2º- Facilidades - O mesmo deve ter facilidades para chegar ao país - acessibilidade de vôos, regras de flexibilidade em vistos...
3º- Qualidade dos serviços - O destino deve oferecer um serviço que enfoque o bem estar do visitante e a sua segurança.

Embora os números da balança de pagamentos sejam ruins, o Brasil têm instrumentos a médio prazo que podem favorecer o país no sentido de melhorar os indicadores de chegadas de visitantes estrangeiros aproveitando o momento positivo do país no cenário internacional e intensificando uma ação articulada com a iniciativa privada no sentido de quebrar definitivamente os velhos estereótipos que por muito tempo prejudicaram o desempenho do país no setor do turismo.

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